Medo e Epidemias

Quando o Ebola atingiu a África ou a gripe aviária (a influenza H5N1) começou na Ásia, um surto de medo invadiu a mente das pessoas, vindo através da mídia, das redes sociais, e para piorar, através das Fake News que criam cada vez mais desinformação, gerando um verdadeiro surto de paranoia.

Não tem sido diferente com o Coronas Vírus. E por quê?

Existem muitos antibióticos que combatem bactérias, já no caso dos vírus não estamos tão avançados. Além disso, as epidemias nos jogam numa guerra diferente, como diz  Laurent-Henri Vignaud, historiador francês da ciência, uma guerra de todos contra todos.

Nessa guerra entre as pessoas, o vizinho, o padeiro, o irmão, qualquer um pode ser um perigo para nós.

O historiador Vignaud nos diz que no caso de epidemias temos mais medo dos doentes que da doença, e isso põe em xeque os nossos vínculos sociais e familiares.

Embora sempre seja desagradável e assustador o surgimento de um novo vírus, a psicologia não se surpreende com o medo exagerado que surge nesses eventos, fruto do que chamamos de “percepção de risco”

Paul Slovic, professor da Universidade de Oregon e presidente da Decision Research, uma organização sem fins lucrativos cujos cientistas estudam o julgamento humano e a tomada de decisão, afirma que no momento em que a ameaça de uma nova doença é comunicada, ativa uma série de questões emocionais nas pessoas que ficam pensando que a doença pode ser fatal, é invisível e difícil de se proteger, a exposição é involuntária e não está claro se as autoridades estão no controle da situação.

Isso faz com que tenhamos uma reação exagerada a uma doença nova, como a epidemia atual, mesmo que ela seja dificílima de nos atingir.

O fato de ser uma ameaça nova ajuda a disseminar o medo e a ansiedade, pois já estamos acostumados com ameaças familiares, como assalto, acidentes ou uma simples gripe.

E veja que ironia, a gripe atinge até 20% da população anualmente e mata milhares de pessoas. Mas, como muitos de nós já teve gripe e sobreviveu, ela já não provoca tanto medo, embora seja mais letal.

Para diminuir o pânico, se faz necessária uma comunicação clara e honesta, seja do governo ou da mídia, que o público confie. O problema é que, hoje em dia, as pessoas acreditam mais no que veem nas redes sociais que na mídia tradicional, o que só aumenta o pânico.

Uma comunicação eficaz de um evento desse porte exige que se defina o que realmente as pessoas precisam saber, de modo que essas informações possam ser repassadas de forma clara e precisa.

Não ajuda nada a ênfase que todos dão às notícias que atualizam a cada hora no número de casos.

Essa midiatização, produzida também pelas tecnologias digitais, fica ainda mais enlouquecedora com os vídeos e áudios produzidos pelo público “leigo” que disseminam boatos com possíveis explicações alternativas para a epidemia, cheios de teorias da conspiração.

Bem, seja a peste negra da Idade Média ou a Gripe espanhola que matou cerca de 50 milhões de pessoas (entre 1918 e 1919), o medo de uma repetição toma conta de nós a cada nova ameaça.

O vírus causador da Gripe Espanhola começou a ser estudado por volta de 1930, mais foi só em 2006 que os pesquisadores conseguiram entender por que o aquele vírus matou tantas pessoas: encontrou uma população abatida pela Primeira Guerra Mundial, desnutrida e sem hospitais ou medicamentos adequados.

Hoje nossa realidade é totalmente diferente. Identificamos cada vez mais rápidos os novos vírus, não estamos em meio uma guerra e de um surto de desnutrição global, e temos tecnologias cada vez mais avançadas a nossa disposição.


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